quarta-feira, 11 de maio de 2011

Eu também vou reclamar!

 O ônibus vai sair às 07h30. Comento antes da partida: "sabe uma das coisas que mais me irrita? Quando tem alguém já ocupando meu lugar".

Foi uma previsão: quando botei os olhos no meu assento, tinha um senhor sentado. Por volta dos seus 40 anos de idade, bem alto e forte (diria que acima do seu peso). Eu olhei, do alto de minha arrogância, e pensei: bom, pelo jeito dele, acho que nem nunca andou de ônibus. Ele vai na janela, se entretendo, vai ser bom. E outra: vai ser mais fácil para sair estando no corredor do que na janela, né? 

É mesmo! Sempre é bom a gente se dar desculpas para não exigir o correto e nossos direitos. 
Oras, se eu escolhi a porcaria da janela e o senhor o corredor, por favor, vá para seu lugar, pois esse daí é meu. Simples assim.

Acomodei-me, contrariada e tentando acreditar que fiz o melhor para mim, principalmente.

"Coloque a bolsa lá em cima", já pegando a minha mochila. Irritada com o tom imperativo e com a ousadia, falei que não precisava, que levaria no colo mesmo.

Coloquei o fone no ouvido no último volume, mas o senhor não parava de falar e de me perguntar tudo que lhe vinha à cabeça. Respondi, por educação, maldita esta, mas continuava colocando o fone no ouvido, sempre que tirava para entender o que ele estava falando. E ainda me sentia mal por não dar a atenção devida e nem ser gentil com o mesmo - por que raios sou assim? 

Comecei a pensar que foi a pior idéia que tive na vida: se tivesse pedido a ele que saísse logo, talvez ele não pensaria que, por ser homem, eu tive medo ou vergonha ou me senti constrangida por retirá-lo do MEU lugar. Às vezes sou mesmo polida demais, pensei... Graças a essa cultura de não reclamar que é típica d@ brasileir@!!!

Quando pensava que ia poder ficar em paz, fingindo que não percebia enquanto ele falava, o cidadão me cutucava o ombro pra que eu prestasse atenção. A essa altura, vários pensamentos sanguinários já se passavam na minha cabeça. Gandhi e Dalai Lama não funcionam, algumas vezes.

Seriam pouco mais de 7 horas de viagem nesse ritmo, se não tivesse pensado na única solução lógica para a situação: fingir que estava dormindo.

Deu certo! Até a hora do almoço. Depois, um evangélico colocou o celular para tocar músicas gospel para todos ouvirmos. Porque, claro, deus é surdo e ele também! 

A um hora e meia do meu destino, consegui um lugar vago no final do ônibus, na cara do banheiro. Corri pra lá, obviamente. Lá chegando, além do banheiro, tinha um outro senhor (repare que os homens são realmente uns fofos!) com o celular também ligado, mas dessa vez a música não era gospel. Era do satanás mesmo!

Depois disso, decidi: "educação" desse tipo, NUNCA MAIS! 

Moral da história: ganhei um Sonho de Valsa (do senhor de 40 anos) pela minha impaciência, intolerância e falta de compaixão...  


P.S. Não comi o chocolate, é claro. Ia acabar tendo uma indigestão, na certa!




Até quando você vai ficar usando rédea
Rindo da própria tragédia?
Até quando você vai ficar usando rédea
Pobre, rico ou classe média?
Até quando você vai levar cascudo mudo?
Muda, muda essa postura
Até quando você vai ficando mudo?
Muda que o medo é um modo de fazer censura
(Refrão)
Até quando você vai levando porrada, porrada?
Até quando vai ficar sem fazer nada?
Até quando você vai levando porrada, porrada?
Até quando vai ser saco de pancada?

3 comentários:

  1. É... essa maldita educação....
    Até quando vamos ficar levando porrada sem fazer nada?
    É isso mesmo, 'Cidadã'.
    Bjs, Karina.

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  2. Pois é, Karina. É esse tipo de "educação" diplomática que nos castra e nos deixa imobilizad@s diante dos absurdos. Esse foi um pequeno exemplo, mas muitos acontecimentos do dia-a-dia nos fazem pensar que não queremos "incomodar". Parece que aprendemos, desde pequen@s a não exigir nossos direitos e nem a cumprir nossos deveres como cidadãos. É triste, pois temos vergonha de sair às ruas pra protestar, mas não temos vergonha de dar "toco" pra policial pra não levar multa...

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  3. Pois é De, to tentando buscar sempre meus direitos.. Muitas vezes nao quero incomodar ou constranger as pessoas, mas acaba sobrando pra mim... Temos que ser educadas, mas sem ser submissas e/ou ocultas. Bjo

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